A casa está bagunçada, meu bem

 Gosto de pensar que todos somos casas. Moradas. Levamos anos para sermos construídas por completo e depois decoradas de acordo com cada vivência e experiência, às vezes somos planejadas e tantas outras não. Casas de várias cores, estruturas, trejeitos e endereços diferentes. Somos abrigos. 

   A casa que sou está bagunçada, mas não sei bem quem bagunçou. Se foi o tempo que fez com que a pintura se desgastasse, as paredes rachassem e algumas goteiras aparecessem ou se foi algum inquilino antigo que não tomou os cuidados mais básicos e deixou assim, pro dono cuidar. Mas pode ser também, meu bem, que algumas visitas também tenham passado por aqui deixando seus rastros de poeira pra limpar.

  A culpa não é sua de eu estar assim, perdoa. Não é justo que tenhas que remendar sozinho os buracos que nas paredes me fizeram, concertar as janelas quebradas ou limpar toda a sujeira do chão. Nem é tua obrigação. Mas é preciso uma faxina, meu bem, uma reforma. Alguns dias, semanas ou meses vazia até que tudo se concerte. 

   Eu vou começar do básico. Trocando as fechaduras, as fiações, as lâmpadas queimadas e quem sabe até mesmo a cor das paredes da sala. O que você acha? Pode ser que fique cara toda essa mudança, pode ser que leve tempo, mas ninguém vai querer morar em um lugar assim. Um lugar sem vida, sem cor e sem jardim.

   Talvez até encontre algum outro lugar pra ficar, talvez mude de cidade. Talvez nunca mais passe por aqui, mas caso passe aperte a campainha. Entre. Mas hoje a casa está bagunçada, meu bem, e é preciso arrumá-la antes de receber alguém.